A comunicação social
sempre teve papel relevante em todas as sociedades, depois de séculos de
desenvolvimento, levando em consideração os avanços tecnológicos, com todos os
seus nuances instrumentais, como o desenvolvimento da fala, a escrita, a
criação da imprensa, o jornal, o rádio, a televisão, o cinema e a internet.
Sempre alimentando um mito, o qual, com o livre acesso a diversos veículos de
comunicação, vivenciaríamos uma situação plena de democracia. O que se percebe
é que mesmo com o advento da internet, a democratização dos meios de
comunicação ainda é uma falácia, pois, com o avanço das políticas neoliberais,
se percebe a atuação hegemônica de um pensamento único, que mercantiliza a
comunicação, e traz a tona uma face perversa, onde as noticias são criadas para
dar uma fundamentação aos fatos, e não os fatos são fundamentações para a
criação das noticias.
1
- Há democratização na comunicação?
A possibilidade de
maior participação e interação pelas novas formas e meios de comunicação, criou
uma sensação de democracia aparente, mais que na sua prática consubstancial,
não condiz com a realidade. Pois as grandes corporações detêm o monopólio das
informações, e mesmo com apontamentos de que há avanços, a proporção de pessoas
com acesso é muito pequena a mais diversas formas de comunicação moderna, como
bem coloca Ramonet (2007), há menos linhas telefônicas na África negra que na
cidade de Tóquio...o número de computadores pessoais mal ultrapassa os 200
milhões para uma população de 6 bilhões de pessoas. Sendo assim, percebemos que
a uma limitação a essa aparência de democracia, o que fica evidenciado com as
formas e utilizações das novas tecnologias.
Não podemos esquecer o
papel das agências de noticias, que padronizam e hegemonizam as informações que
circulam no mundo, utilizando seus critérios para a circulação de informações,
colocando algumas noticias como fatos acabados e atendendo a certos interesses,
que quase sempre estão ligados a setores fortes da economia.
Um exemplo evidente é a
forma de atuação ou omissão dos meios de comunicação. No período histórico do
pós-II guerra mundial, o que ficou conhecida como Guerra Fria, todos os dias
acontecia o que podemos dizer, um ataque midiático ao muro de Berlim, que
dividia a Alemanha Socialista (República Democrática Alemã – Alemanha Oriental)
da Alemanha Capitalista (República Federal Alemã – Alemanha Ocidental), com os
adjetivos mais provocativos, como o “muro da vergonha”, “a cortina de ferro”,”o
muro da infâmia”. Hoje, mais de 20 anos após a queda do muro, outros muros surgiram
e seguem invisíveis, ou com pouca comoção midiática, como o muro que o Estado
de Israel fez para separar e oprimir o povo palestino, o muro de Marrocos ou o
que os EUA fez para impedir a entrada de mexicanos em seu território(GALEANO,2008).
Esses são exemplos de
que a benevolência democrática é só uma desculpa para a atuação do Capital,
pois o que o muro de Berlim separava não era a nação, mais sim o modelo
econômico.
As construções da
abordagem também apontam seus limites, pois, sempre se percebe certa nuance dos
fatos que compõe as noticias nos grandes veículos. Geralmente os temas
políticos são dimensionados com seus víeis intrínsecos, principalmente com
relação a política econômica e internacional.
Em uma simples troca de
enquadramento de um ancora televisivo, percebemos a mudança no tom de voz e
feição do apresentador quando fala de algum assunto polêmico, por exemplo: o
cancelamento da concessão pública de televisão a RCTV na Venezuela pelo
Presidente Hugo Chaves, ou a Libertação de presos políticos pelas FARC-EP, ou a
tentativa de golpe de Estado no Equador.
Mais não percebemos um
ar de reprovação ao anuncio de mais uma privatização, a abertura de um novo
mercado econômico que abalará a estrutura econômica brasileira, ou até na constatação
de fatos que são científicos e revelam a ação discriminatória do poder vigente,
como o caso da pesquisa que revelou que a agricultura familiar produz mais
alimentos para a população brasileira que o agronegócio.
A democracia se
transformou em uma criatura mitológica, ao qual, acreditamos existir por si
mesma, como uma palavra mágica, mais sem entendermos a sua forma e concepção. O
mito da democratização dos meios de comunicação se dá pelo fato de ser uma
democracia de mercado, pois, como a própria historia do Rádio aponta, é um
clube seleto que desfruta de suas vantagens, porém, antes esse clube era só
para desfrutar do privilegio de se comunicar e obter a informação, e hoje, ele
é o clube dos que produzem a comunicação em escala mundial.
O que se classifica
como democracia da informação se revela no que Ramonet(2007) aponta como a
possibilidade de sermos divididos entre os info-ricos e os info-pobres.
2
– A invisibilidade midiática
A prática de
invisibilidade é comum nos meios de comunicação. Com o expediente que tenta
negar a realidade objetiva, e retirar da pauta os grandes temas de mobilização
social, como os conflitos gerados por uma demanda de problemas sociais que não
foram solucionados historicamente na sociedade em geral e principalmente na brasileira.
Fatos históricos são
conhecidos por boa parte das pessoas que ultrapassam o senso comum, pois sabem
que os meios de comunicação exercem um papel fundamental na política de
controle social, como arma fundamental na construção da hegemonia do pensamento,
e as estratégias adotadas são as mais variadas. Como Betinho(1984) expressa que
os órgãos de inteligência trabalham com um sentido de “guerra” na produção de
informação e contra-informação, onde o que interessa é o objetivo que o órgão
persegue e não o fato.
Com esse monopólio dos
principais meios de comunicação de massa, passamos a perceber uma nova forma de
poder político que emerge do crescente desenvolvimento dos meios de
comunicação, tendo o poder, quase que ilimitado de construir o real, de definir
o real, de incluir ou excluir atores, forças e movimentos do quadro real
apresentado a milhares de pessoas (BETINHO, 1984).
Exemplo mais discutido
nos meios intelectuais no ano de 1990 foi à forma que foi editado o debate
entre os candidatos a Presidência da República em 1989, protagonizado por
Collor e Lula, onde a edição de imagens e declarações colocou o “melhor de
Collor” e o “pior de Lula”(LAGE,1998).
São fatos como esse que
demonstram o poder que a mídia tem e como agem caso alguma ação aponte na
perspectiva de superação ou que vá de encontro com seus interesses. A
comunicação se tornou um mercado lucrativo e de poder político tão expressivo
que até construiu um lobby nas
diversas casas legislativas no mundo
As várias estratégias
utilizadas para criminalizar atores e movimentos sociais são realizadas quase
de maneira imperceptível, mais que cumprem esse papel de forma exemplar, com
adjetivos que mudam na forma, mas não no conteúdo, as organizações populares,
movimentos sociais tendem a serem criminalizadas ou discriminadas de forma
ferrenha nos diversos meios de comunicação, com a acunha de “terroristas”,
“subversivos”, “desordeiros”, “bandidos”, “arruaceiros” e “marginais”.
Demonstrando que não é uma prática recente, pois, historicamente no Brasil e no
mundo se aponta casos como o relato da Guerra de Canudos, demonstrado em “Os sertões” de Euclides da Cunha (ARBEX,2003).
O mesmo autor aponta as
estratégias utilizadas para o processo de satanização dos movimentos sociais,
colocando em evidencia essa forma de atuação com 5 pontos, ao qual em seu livro
demonstra como foi utilizada contra o MST (Movimento dos Trabalhadores rurais
Sem-terra). A invisibilidade (que consiste em ignorar o grupo social citado), a
divisão (dando mais espaço para uma liderança do movimento em detrimento de
outra, mexendo com a vaidade de certos representantes), a desqualificação
(colocando sempre a força da autoridade de um especialista no assunto,
desqualificando o movimento. Ex: Na opinião do MST. Segundo o economista da
USP), a cooptação (tentativa de fazer com que lideranças abandonem os objetivos
do movimento, para desarticular aquele grupo social) e por último a demonização
(onde vale tudo, calúnia, difamação, mentiras).
Com essas contradições
evidentes, percebemos que se houvesse uma verdadeira democracia nos meios de
comunicação, alguns fatos nunca seriam omitidos ou ignorados, e grande parte
dos problemas que fazem parte da pauta dos movimentos sociais seriam mais bem
compreendidos pela população dotada de um senso comum.
3
– Comunicação e comércio
O mundo com seu novo
paradigma comunicativo entra em uma nova vertente, onde a democracia não é
praticada, mais comprada, ou melhor, dizendo comercializada.
Vivemos um momento de
perversidade sutil, pois, a esfera econômica dominou a política, além de
dominar a comunicação. Milton Santos (2005,40) destaca que
Há
uma relação carnal entre o mundo da produção da noticia e o mundo da produção
das coisas e das normas. A publicidade tem, hoje, uma penetração muito grande
em todas as atividades. Antes, havia uma incompatibilidade ética entre anunciar
e exercer certas atividades, como na profissão médica, ou na educação. Hoje,
propaga-se tudo, e a própria política é, em grande parte, subordinada às suas
regras.
Com
essa subordinação do público pelo privado e a ideologia de mercado cada vez
mais forte, percebemos o quanto é complexa a situação de nossa sociedade, onde
a hegemonia do Capital se fortaleceu e acabamos entendendo a frase clássica de
Marx (1845-46) as idéias dominantes, são as idéias das classes dominantes.
Conclusão
Com essa constatação,
não temos dúvidas do que está em processo, não como avanço ou desenvolvimento,
mais como forma de homogeneização do pensamento, das formas de entendimento com
relação às diversas realidades, tornando cada vez mais vulnerável a sociedade
que crê como mistificação na idéia de neutralidade e democracia dos meios de
comunicação como solução em si mesmo dos problemas sociais e da ideologia
dominante.
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